sexta-feira, 24 de agosto de 2012

i online: Sangue do cordão. Tutela diz que colheitas estão suspensas

O banco público de sangue do cordão umbilical continua a receber doações apesar de um documento do Ministério da Saúde afirmar que as colheitas só podem ser retomadas após os resultados de uma avaliação de risco. Helena Alves, directora do Centro de Histocompatibilidade do Norte (CHN), onde funciona o banco Lusocord, garante que não houve qualquer ordem nesse sentido, nem da tutela nem da Autoridade para os Serviços de Sangue e da Transplantação. “Continuamos a distribuir kits e recebemos 40 colheitas por dia”, conta a responsável pelo banco desde a sua criação, em 2009.

A posição do Ministério da Saúde relativamente ao futuro do único banco público de sangue do cordão umbilical surge em resposta a uma pergunta do PSD, com data de 23 de Julho. Neste documento, o gabinete do ministro informa os deputados que a ASST fez em 2011 uma inspecção ao banco, tendo identificados “não conformidades” que levaram a suspender a “distribuição, circulação e importação de sangue do cordão”. O gabinete adianta que desde então houve correcções, mas “há ainda muitos requisitos legais de qualidade e segurança” por verificar. “O governo entende que só mediante os resultados da avaliação de risco poderão ser retomadas as colheitas, o apoio financeiro e o reforço do banco em termos de recursos humanos”, lê-se. “Depois uma avaliação criteriosa e da definição das condições necessárias (...), o governo tenciona continuar a apoiar a recolha de amostras com os devidos recursos.” A resposta adianta ainda que, no âmbito da fusão do CHN no Instituto Português do Sangue, o Lusocord passará, “em princípio”, para o futuro centro de sangue e transplantação do Porto.

Para Helena Alves, este ponto de situação só tem duas explicações: “Falta de noção ou má--fé.” Segundo a responsável, o banco continua a funcionar e a avaliação está a ser feita a nível interno: estão a descongelar amostras para perceber se as células estaminais guardadas (e que podem ser usadas no tratamento de doenças como leucemia) estão vivas e com que rapidez se multiplicam, critérios de viabilidade até aqui não demonstrados porque o banco nunca libertou nenhuma das mais de oito mil colheitas recebidas. “Não temos um médico que possa fazer uma avaliação dos processos e autorizar a libertação de amostras em caso de compatibilidade”, diz. “De certeza que alguma já poderia ser sido utilizada. É um tesouro oculto.”

Alves adianta que a inspecção resultou de um pedido seu, para reforçar apelos feitos desde 2009 junto da tutela. “As irregularidades, como algumas análises por fazer em metade das amostras, resultam da falta de recursos humanos.” As únicas verbas programadas para o projecto, pelo governo anterior, não foram executadas. Helena Alves diz que, dos dois milhões de euros previstos para 2011, recebeu 500 mil e este ano não houve verbas. “As nossas obrigações estão mais do que ultrapassadas. É a mesma coisa que um pai ter um filho, abandoná-lo e aparecer mais tarde junto da mãe que cuidou dele a dizer que a criança não toca piano.”

Helena Alves, que é também inspectora de bancos de sangue a nível internacional, lamenta ainda que a lei portuguesa exija “cinco estrelas”, quando é importado sangue de bancos inferiores. “Temos sobrevivido à custa de teimosia. A ASST exige cá dentro o que não exige de fora.”

http://www.ionline.pt/portugal/sangue-cordao-tutela-diz-colheitas-estao-suspensas

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