domingo, 11 de março de 2012

Diário Digital: Regra das oito horas de sono pode ser um mito

Dados científicos e históricos sugerem que a recomendação de oito horas ininterruptas de sono por dia pode ser baseada num mito. Segundo especialistas, o processo biológico natural prevê um sono segmentado em duas partes, mas o padrão foi aos poucos sendo alterado por transformações sócio-culturais.

No início da década de 1990, o psiquiatra Thomas Wehr realizou uma experiência na qual um grupo de pessoas ficou num ambiente escuro durante 14 horas por dia num período de um mês.

Os voluntários precisaram de um tempo para regular o sono mas, na quarta semana, apresentaram um padrão muito diferente: dormiam quatro horas, acordavam durante uma ou duas horas e depois dormiam por mais quatro horas.

Além desta pesquisa, em 2001 o historiador Roger Ekirch, da Universidade Virginia Tech, publicou um estudo depois de 16 anos de pesquisa que revelou várias provas históricas de que o sono humano é dividido em dois períodos.

Quatro anos depois, Ekirch publicou o livro «At Day´s Close: Night in Times Past», que mostra mais de 500 referências a um padrão de sono segmentado, em diários, registos jurídicos, livros médicos e literatura, desde a Odisseia, de Homero, até um relato antropológico a respeito de tribos modernas da Nigéria.

Estas referências descrevem um primeiro período de sono que começava cerca de duas horas depois do anoitecer, seguido de um período em que a pessoa ficava acordada por uma ou duas horas e então um segundo período de sono.

«Não é apenas um número de referências, é a forma como é relatado, como se fosse do conhecimento de todos», disse Ekirch.

Na experiência de Wehr, durante o período de duas horas em que as pessoas ficavam acordadas, havia actividade. Estas pessoas levantavam-se, iam à casa de banho ou fumavam e algumas até visitavam os vizinhos.

A maioria das pessoas ficava na cama, lia, escrevia ou rezava. Vários livros de orações do final do século XV traziam preces especiais para as horas entre os períodos de sono.

Estas horas nem sempre eram solitárias, as pessoas geralmente conversavam ou tinham relações sexuais.

Um manual médico de França do século XVI até aconselhava os casais que a melhor hora para conceber um filho não era no final de um longo dia de trabalho, mas «depois do primeiro sono».

Ekirch descobriu no seu estudo que as referências ao primeiro e segundo sono começaram a desaparecer no final do século XVII. Isto começou nas classes sociais superiores do norte da Europa e nos 200 anos seguintes espalhou-se para o resto da sociedade ocidental.

E, por volta da década de XX, a ideia do primeiro e segundo sono já tinha desaparecido.

O pesquisador atribui esta mudança à melhoria na iluminação pública, na iluminação doméstica e a um aumento do número de cafeterias, que, em alguns casos, ficam abertas a noite inteira. A noite transformou-se num período de actividade normal e o tempo de descanso diminuiu.

http://diariodigital.sapo.pt/news.asp?id_news=559979

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