domingo, 8 de abril de 2012

i online: Gordo ou magro? Também há falsos negativos na obesidade

“Obesos com peso normal.” A definição pode parecer estranha, mas é usada por dois investigadores nova-iorquinos para descrever uma parte da população que poderá está a ser ignorada nas classificações convencionais de obesidade. O argumento é que o meio tradicional para avaliar a doença, o Índice de Massa Corporal (fórmula que divide o peso pelo quadrado da altura) não pesa factores como massa magra ou óssea ou os níveis de uma hormona essencial no controlo do apetite, a leptina, já ligada ao aumento da massa gorda. O problema é maior nas mulheres mais velhas: a partir dos 60 anos mais de metade dos não-obesos, segundo este índice, podem ser falsos negativos, alerta um estudo publicado na revista “PLoS One”.

O objectivo do trabalho, assinado por Nirav R. Shah, da Universidade de Nova Iorque, e Eric Braverman, da Fundação Path e Faculdade de Medicina Weill-Cornell, era comparar diferentes formas de medir a adiposidade e confrontar resultados. Os investigadores utilizaram para isso os registos de 1393 doentes de uma clínica de Manhattan, com registos sobre peso e altura e resultados de análises à leptina e de exames de densitometria óssea bifotónica, um exame avançado usado na avaliação da osteoporose mas que também pode determinar o nível de massa gorda e magra e densidade óssea.

Apenas 26% dos doentes foram classificados como obesos pelo índice IMC mas, com o recurso às restantes técnicas já demonstradas na literatura científica como boas opções para avaliar a obesidade. Os investigadores concluem que 64% entrariam na fronteira para a qual estão demonstrados riscos acrescidos de doença coronária, hipertensão ou diabetes. O limite a ter em conta, defendem, devem ser os 25% de massa gorda nos homens e 30% nas mulheres. Pesando estas variáveis, entre os doentes classificados como não-obesos pelo IMC, 39% estavam enganados, concluem, o que pode aumentar os contornos da epidemia nas sociedades ocidentais.

Os investigadores defendem que mesmo que a densitometria óssea não possa ser usada por rotina – o exame de densitometria comparticipado custa 33 euros ao SNS – as análise aos níveis de leptina deveriam passar a ser mais comuns e validar os resultados do índice IMC (em Portugal custam 15,80 euros ao Estado).

Os investigadores alertam para o potencial desta nova abordagem, sobretudo nas mulheres que tendem a perder muita massa muscular e em que menos peso pode não significar menos gordura. Para Shah e Braverman, uma abordagem moderna para avaliação da obesidade é essencial sobretudo quando a doença se torna prioridade nacional e quando se percebe que a prevalência crescente tem um impacto tão grande na saúde como fumar.

“A ultrapassada fórmula do IMC não é uma medida de adiposidade, mas uma imprecisa estimativa matemática”, alertam no artigo, que está disponível online.

Perímetro abdominal Davide Carvalho, presidente da Sociedade Portuguesa para o Estudo da Obesidade, defende que esta visão do IMC como uma fórmula imprecisa não é nova, mas que por isso mesmo a avaliação dos doentes nestes casos de fronteira parte também da medição do perímetro abdominal, um melhor indicador do excesso de gordura visceral como factor de risco. Os investigadores portugueses têm vários trabalhos publicados nesta área, sobretudo na avaliação da obesidade em doentes seropositivos, onde existem casos de lipodistrofia, que é uma distribuição anormal da gordura corporal que se traduz nos mesmos riscos acrescidos da obesidade. “A densitomeria e as análises à leptina são técnicas avançadas que usamos sobretudo em investigação. Com uma incidência do excesso de peso superior a 50% na população, seria impossível usá-las” devido aos custos defende o especialista do Hospital de São João, que alerta também que no caso da densitometria os doentes seriam expostos a radiação sem necessidade.

Carvalho adianta que os estudos epidemiológicos da obesidade em Portugal já incluem o IMC e o perímetro abdominal, embora admita que alguns casos de obesidade nas mulheres mais velhas possam não ser detectados. O essencial é prevenir: “Mais sapato e menos prato”, alerta. Braverman, questionado pelo i sobre a utilização do perímetro abdominal como indicador, rejeita que faça parte da abordagem moderna ao problema. “Não é possível ser usado com precisão. É preciso avançar para técnicas mais sofisticadas. Antes os médicos também provavam a urina dos diabéticos para fazer o diagnóstico. Acredito que o IMC entra nessa categoria.”

http://www.ionline.pt/portugal/gordo-ou-magro-tambem-ha-falsos-negativos-na-obesidade

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