domingo, 8 de abril de 2012

Sábado: Jillian Michaels: "As farinhas do pão branco são feitas com lixívia"

Foi uma adolescente obesa e conseguiu eliminar o excesso de peso fazendo muito exercício físico. Jillian Michaels, de 38 anos, tornou-se especialista em fitness. A treinadora do reality show 'The Biggest Loser' é doutorada em Química e nos últimos anos tem investigado a influência dos produtos artificiais no corpo humano e na acumulação de gordura. Acaba de lançar em Portugal o livro 'Domine o Seu Metabolismo' (ed. Lua de Papel), em que explica como alguns produtos tóxicos podem desregular o organismo, levando ao excesso de peso. Falou com a SÁBADO por telefone a partir da Califórnia, onde vive.

Quais foram as conclusões mais surpreendentes da sua investigação?
Sempre pensei que o peso dependia do balanço das calorias que ingeríamos e das que gastávamos na actividade física. Mas descobri, por experiência própria, que o peso depende muito do balanço hormonal e que há muitos outros factores decisivos. Dos químicos que ingerimos na comida aos que estão nos produtos de beleza, na água e no ar e que têm um impacto dramático no balanço hormonal e na bioquímica do corpo. O creme hidratante para a cara pode ter influência na forma como armazenamos gordura e onde essa gordura se acumula.

Sabendo isso, alterou alguns hábitos diários?
Claro. Mudei todos os produtos de beleza e de limpeza para a casa. Agora só uso ingredientes naturais – cremes hidratantes à base de azeite e açúcar mascavado como esfoliante. Quando limpo a casa, uso vinagre e sumo de limão como desinfectante.

E nos alimentos processados industrialmente quais são os maiores riscos?
A carne produzida industrialmente tem hormonas, antibióticos e outros compostos artificiais que afectam o funcionamento do nosso organismo e que podem conduzir à obesidade, entre outros problemas, prejudicando até o nosso sistema imunitário.

Quando era adolescente tinha excesso de peso. Como ultrapassou esse problema?
A obesidade e o excesso de peso não são apenas questões físicas. O descontrolo emocional está muitas vezes na raiz do problema que leva à compulsão de comer de forma desregulada. Além da dependência física há também a dependência emocional. A comida é reconfortante, é algo que podemos controlar, que associamos a boas memórias de infância, e preenche o vazio emocional de muitas pessoas, torna-se reconfortante. Além disso, alguns alimentos, como os doces, estimulam a produção de serotonina, uma hormona que dá sensações de prazer e ajuda a combater a depressão.

Comer em excesso torna-se um ciclo vicioso?
Exactamente. Mas quando se exagera torna-se contraproducente, a pessoa fica mais deprimida, sente-se mal e come ainda mais. E isso foi o mais difícil para mim, lutar contra essa dependência emocional da comida. Depois de conseguir controlar isso, a informação sobre o que devemos comer e as quantidades torna-se mais fácil de gerir.

Esse foi um dos seus segredos no 'The Biggest Loser', muitas vezes fez o papel de psicóloga para ver que traumas emocionais levavam os concorrentes a comer descontroladamente. Qual foi o caso mais marcante?
Uma concorrente chamada Abby Rike, que tinha perdido os dois filhos e o marido num acidente de carro. Ela não só ultrapassou a sua tragédia pessoal, como depois ajudou outras pessoas a perder peso.

Quais são as medidas mais eficazes para lutar contra a obesidade infantil?
O melhor a fazer é os adultos seguirem eles mesmo uma dieta equilibrada, as crianças acabam por imitar esse estilo de vida. Ter comida saudável em casa, ter hábitos saudáveis, fazer exercício regularmente. Podem ser coisas muito simples, criar rotinas, caminhar regularmente (como ir passear o cão) jogar à bola ao ar livre. E impor algumas regras: limitar o tempo que passam ao computador ou a ver televisão, para não ficarem sedentários durante horas a fio.

Foi o que você fez?
No meu caso, foram as aulas de artes marciais que me ajudaram a perder peso e a vencer muitas das minha inseguranças. Ajuda-nos a sermos mais autoconfiantes. Pode ser futebol, dança ou artes marciais... não importa, desde que seja uma actividade física interessante, que cada um queira explorar. E se as crianças quiserem desistir logo, não as deixem: digam-lhes que é um compromisso que assumiram e têm de tentar terminar. Dêem-lhes essa responsabilidade e não cedam, até ao fim do ano escolar, por exemplo. Muitas vezes os miúdos desistem cedo e é preciso dar mais tempo para eles apreciarem a actividade física.

E o controlo da comida das crianças?
Isso é muito importante. Devem levar comida de casa, para os pais controlarem melhor o que eles comem, não lhes dar dinheiro para guloseimas e falar com outros pais para os sensibilizar, evitando que os seus filhos vão com outros miúdos a cadeias de fast food.

Defende que a fast-food devia ter impostos mais altos e rótulos a avisar dos malefícios?
Sim. Na Califórnia isso já é obrigatório. São excelentes medidas. Estamos em risco de criar uma geração com graves problemas de saúde por causa da comida cheia de químicos, excesso de gordura, sal e açúcar. Alguns pais ficam chocados quando lhes pergunto: “Gostavam de ver os vossos filhos a consumir drogas com moderação?” Na realidade é isso que estão a fazer ao deixarem-nos comer fast food e alimentos industriais.

Porquê?
Sabemos que este tipo de alimentação causa danos cerebrais, problemas de rins, de fígado, doenças cardiovasculares, etc. É uma das piores coisas a que podemos expor os nossos filhos. Honestamente, eu ficaria menos preocupada se o meu filho chegasse a casa e me dissesse que tinha fumado marijuana uma ou duas vezes, do que se me dissesse que comia fast food regularmente.

Isso é uma afirmação muito forte, não é?
Eu sei. Fumar marijuana não é bom para a saúde, mas acho que é mais fácil de controlar. Se as crianças comerem fast food regularmente é muito provável que tenham doenças graves ou morram mesmo por volta dos 40 ou dos 50 anos.

Então acha mesmo que é muito perigoso?
Sim. Porque sei que os ingredientes dessa comida são sinistros. Um deles é o glicol, usado para manter a humidade dentro dos alimentos, (e que era usado originalmente para descongelar os motores). Estamos a engolir venenos. Não é só o problema do excesso de calorias e da obesidade. Podemos dar aos nossos filhos algumas guloseimas, um cupcake ou um hambúrguer de vez em quando, desde que sejam preparados em casa ou em sítios de confiança.

Defende que as pessoas deviam cozinhar mais para saberem o que estão a comer, mesmo que os pratos sejam um pouco mais calóricos?
Sim, por exemplo bolachas feitas com manteiga verdadeira, com açúcar não refinado, com farinha integral. Ingredientes naturais. Sem corantes artificiais, nem conservantes químicos. O problema é quando se consome farinha ultra-refinada, que é tão branca porque se usa lixívia no seu processamento.

Lixívia?
Absolutamente. As farinhas do pão branco são processadas com lixívia, por exemplo. Eu não defendo que as pessoas não devem comer isto ou aquilo, mas devem saber o que comem. A massa por exemplo: desde que seja integral, é uma boa opção. Não comam as massas refinadas.

http://www.sabado.pt/Multimedia/FOTOS/-span--b-Sociedade-b---span--%281%29/Fotogaleria-%28329%29.aspx

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