quinta-feira, 16 de agosto de 2012

Diário Digital: Britânica superou fobia a gravidez e teve três filhos

Uma britânica mãe de três filhos falou à BBC da sua luta para vencer uma fobia até recentemente não reconhecida por médicos: o pavor do parto. Muitas mulheres sentem medo e ansiedade em relação ao parto, especialmente na primeira gravidez. Mas para as que sofrem de tocofobia - transtorno psicológico identificado em 2000 pela psiquiatra Kristina Hofberg - esse medo natural transforma-se num pavor irracional e profundo que as leva a evitar o parto.

«Eu sentia um temor incontrolável, como se o parto fosse algo impossível», disse à BBC a jornalista Fran Benson. «Achava que se tivesse um filho o meu corpo iria dividir-se em dois e morreria».

Um estudo feito recentemente no Akershus University Hospital da Universidade de Oslo, na Noruega, concluiu que os partos de mulheres que sentem medo de parir são em média 90 minutos mais longos.

A jornalista contou que, desde pequena, sentia desconforto na presença de mulheres grávidas e evitava conversas sobre gravidez e partos. Se havia cenas a envolver gravidez e partos na televisão, ficava nervosa e tinha de sair da sala. Também evitava visitar amigas na maternidade.

O seu marido, no entanto, queria ter filhos.

«Evitei a gravidez durante muito tempo», confessou.

Quando finalmente engravidou, Benson teve de confrontar o seu medo profundo. Ela disse que sofreu cinco ou seis ataques de pânico.

«O ritmo dos meus batimentos cardíacos acelerava e sentia calafrios na barriga. Se eu não me retirasse daquela situação, começava a chorar e ficava histérica».

«Uma vez, no início da gravidez, durante um jantar, as minhas amigas começaram a falar dos seus partos e dos cortes que sofreram. Pedi que parassem, mas continuaram. Comecei a hiperventilar e a chorar».

Os especialistas constataram que as mulheres que tinham medo de parir passaram, em média, uma hora e 32 minutos a mais em trabalho de parto do que as que não tinham esse medo.

«Encontramos uma relação entre o medo de parir e a duração mais longa do parto», disse Samantha Salvesen Adams, co-autora do estudo. «De maneira geral, a duração maior do trabalho de parto aumenta os riscos de partos instrumentais (fórceps) e de cesarianas de emergência».

Ela sublinhou, no entanto, que a grande maioria das participantes que tinham medo do parto conseguiu ter o seu filho por parto normal.

Num artigo publicado na revista científica de ginecologia e obstetrícia BJOG, Adams e os seus colegas disseram que, de maneira geral, entre 5 e 20% das mulheres grávidas têm medo do parto. (Nem todos esses casos seriam classificados como tocofobia.)

Eles explicam que vários factores estão associados ao medo de parir. Entre eles, falta de suporte social, histórico de abuso ou de problemas associados ao parto, a pouca idade da mãe, o facto de se tratar de uma primeira gravidez e problemas psicológicos.

E o problema parece estar a aumentar, disse Adams.

«O medo do parto parece ser um tema cada vez mais importante em obstetrícia. A nossa descoberta de que partos demoram mais entre mulheres com medo de parir é uma nova peça nesse quebra-cabeças que é uma intersecção entre psicologia e obstetrícia».

Fran Benson teve a sorte de conhecer a psiquiatra Kristina Hofberg, do St. George´s Hospital em Stafford, Inglaterra.

Especialista no assunto, Hofberg diagnosticou a tocofobia da paciente na primeira gravidez.

A jornalista começou então a preparar-se para o parto utilizando, entre outros recursos, CD de relaxamento. Baseados em técnicas de hipnose, os CD, nas palavras dela, tinham o objectivo de «reprogramar o seu cérebro», convencendo-a de que ela era capaz de parir e de que o parto não iria matá-la.

No entanto, após algumas horas na mesa de operações, o seu parto complicou-se. Terminado o turno de trabalho, o primeiro grupo de parteiras - que já conhecia Fran e sabia do seu diagnóstico de tocofobia - foi substituído por um outro grupo.

Benson explicou que antes de entrar em trabalho de parto havia pedido à equipa que acompanhava a sua gravidez que evitasse fazer cortes no seu períneo ou o uso de instrumentos (como os utilizados em partos com recurso a fórceps).

Mas a nova equipa não havia lido o prontuário da paciente e começou a considerar o uso desses recursos. Sem o suporte psicológico necessário, Fran Benson viveu o seu pior pesadelo. Ela sofreu uma crise de pânico na mesa de cirurgia. Agitada e sem controlo, começou a gritar, a dizer que preferia morrer e que não se importava com o bebé.

Benson acabou por receber uma epidural que a anestesiou parcialmente e a equipa teve de usar instrumentos para auxiliar o parto. O seu primeiro filho, Sam, nasceu saudável, mas ela acha que o trauma do parto poderia ter sido evitado.

Ao longo de três gravidezes, Fran Benson aprendeu a lidar com a sua fobia. Ela acha importante que as equipas médicas estejam conscientes de que o problema existe. Mas muito pode ser feito pelas próprias mulheres.

Além dos CD de relaxamento, um bom grupo de apoio é fundamental, recomendou.

«Eu sugiro que se cerque de profissionais com quem se sente confortável», afirmou.

«Escolha alguém de confiança para apoiar durante o parto – o seu marido, um amigo, alguém que possa ser o seu porta-voz se começar a entrar em pânico».

Benson também é a favor de partos em casa - especialmente para mulheres que têm fobia de hospitais -, mas reconhece que essa nem sempre é a opção mais adequada.

http://diariodigital.sapo.pt/news.asp?id_news=585497

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