quarta-feira, 15 de agosto de 2012

Diário Digital: Estudos encontram células estaminais em cancro

Por que é que um cancro pode voltar a aparecer após um tratamento aparentemente bem-sucedido? Cientistas que assinam três trabalhos indicam que a chave do problema está nas células estaminais do tumor.

Nesses estudos, dois editados pela revista científica Nature e um pela Science, ratos geneticamente modificados para que as suas células estaminais ficassem coloridas e para que tivessem cancro foram usados para mostrar que é esse tipo de célula que comanda o processo de crescimento do tumor.

Através das marcações coloridas, um dos estudos traçou a «descendência» das células, que formam outras num tumor de pele.

Noutro estudo, feito com ratos com glioblastoma (tumor cerebral agressivo), a actuação das células estaminais foi confirmada através do uso de tratamentos.

Primeiro, os animais receberam um medicamento de quimioterapia que é usada hoje contra esse tipo de tumor. O cancro diminuiu, mas voltou a crescer. Através de imagens de amostras desses tumores, os cientistas viram que as células estaminais estavam por trás da reincidência.

Os ratos também foram tratados com um medicamento desenvolvido só para eles e que mata essas células. Dessa vez, o tumor foi erradicado.

De acordo com o biólogo Tiago Góss dos Santos, do Hospital A.C. Camargo, os estudos dão força à ideia de que uma célula estaminal, quando se torna cancerosa, dá origem aos vários tipos de célula que compõem um tumor.

O outro modelo, que antes era mais aceite, era de que não haveria uma hierarquia: todas as células do cancro seriam igualmente responsáveis pelo seu crescimento.

«Já foi visto que a maioria das células mortas pela quimioterapia são as já diferenciadas [que não são células estaminais]. Ainda que mate 90% das células, o tratamento não está eliminando a parte do tumor que o faz crescer.»

O oncologista Bernardo Garicochea, responsável por ensino e pesquisa no Hospital Sírio-Libanês, afirma que, agora, é preciso investigar mais a fundo a resistência dessas células à quimioterapia.

«O nosso corpo não liga muito às células mais velhas, que serão logo descartadas em favor de novas. Com o tumor, é a mesma coisa: o que importa é manter a capacidade de regeneração.»

No seu estado normal, as células estaminais, que estão presentes por todo o nosso organismo, têm funções importantes na regeneração, dando origem a novas células.

Para o oncologista, um próximo passo a ser dado é analisar em detalhes essas células estaminais tumorais para que seja possível criar drogas específicas para elas, que não afectem as células normais e necessárias.

A presença maior ou menor dessas células num tumor também pode vir a mudar a classificação do potencial de risco da doença.

http://diariodigital.sapo.pt/news.asp?id_news=585433

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