Pensei
muito antes de me decidir a escrever sobre este assunto. É demasiado complexo e
difícil de resolver para ser simplesmente comentado em meia dúzia de linhas,
mas a verdade é que é algo que me indigna e que procuro combater como posso.
Comecemos
por observar como é o ritmo de trabalho nos dias que correm (isto para quem
ainda tem trabalho, claro): das 9h00 às 18h00 (com sorte!) incluindo a hora de
almoço, mais o tempo passado em deslocações... vá, vamos contar com 45 minutos
para cada lado (este factor varia demasiado...).
Agora
pensemos no ritmo das nossas crianças. Chegam à escola às 8h00 e saem às 19h00,
mais coisa, menos coisa. A não ser que tenham a sorte de ter avós disponíveis
para os ir buscar (felizmente ainda há muita gente que tem).
Somemos
ainda o tempo passado a dormir (essencial), a preparar refeições e a comê-las,
a arranjarmo-nos e a arrumar a casa (pelo menos limpar o pó de quando em
quando...).
O
que sobra?
É
para isto que nos dizem que temos de ter mais filhos? É a isto que chamam
incentivo à natalidade? Eu sei que temos de produzir, até porque temos contas
para pagar (as de casa e as do país), mas será que devemos medir a produtividade
na quantidade de horas que passamos no trabalho?
Tenho,
frequentemente, a sensação que medimos a dedicação e empenho no trabalho
meramente em função das horas que lá passamos. Quem é que nunca ouviu algo do
género ao sair às 17h00 para ir a uma consulta: “Já vais?! Grandes vidas!”... Sem
comentários...
Não
deveríamos estar todos a lutar por um aumento efectivo da produtividade, medido
com base em resultados? Não deveríamos todos dedicar mais tempo e atenção à
família e amigos na procura de um melhor equilíbrio emocional? Não seríamos
todos mais felizes e produtivos assim?
Não
posso dizer que tive uma infância tradicional: os meus pais trabalhavam por
conta própria, o que sempre os obrigou a dedicar bastante tempo a fazer o
negócio resultar. Era preciso dedicação para que se conseguissem resultados.
Hoje compreendo isso (embora nem sempre concorde). Teve as suas consequências:
não havia passeios de fim-de-semana, nem férias de Verão, nem outras coisas
tidas como garantidas pelos nossos amigos.
Mas,
apesar de todas as contingências, reconheço um enorme esforço (bem sucedido) no
acompanhamento do meu crescimento e do da minha irmã: pude fazer penteados à
minha mãe enquanto ela tratava da contabilidade, pude acompanhar o meu pai na
distribuição, pude frequentar natação e inglês mesmo implicando levarem-me lá,
pude estar com os meus pais sempre que queria (apesar de estarem a trabalhar),
pude conhecer uma realidade bem diferente da habitual, pude dedicar-me ao
estudo, pude brincar na rua, pude trabalhar e ganhar o meu dinheiro, pude
aprender a lidar com trabalho/estudo e pude fazer e aprender muito com esta
realidade. Apesar de tudo, sinto que fui acompanhada tão bem quanto lhes foi
possível.
Isto
tudo para dizer que me revolta que os pais de hoje não consigam acompanhar,
como certamente desejariam, os seus próprios filhos e que tenham de confiar a
sua educação aos avós e professores. Não é suposto ser assim!
De
alguma maneira, a sociedade tem de encontrar um equilíbrio entre trabalho, família
e lazer. Pelo bem da nossa sanidade mental, pelo bem das gerações vindouras e
pelo bem da própria sociedade e do seu futuro enquanto tal.
Temos
de perder menos tempo em deslocações. Temos de rentabilizar melhor o tempo
passado no trabalho, evitando distracções, reuniões sem interesse, conversas
sem fim e tarefas sem resultados. Temos de optimizar as tarefas domésticas, com
organização, sinergias e trabalho de equipa. Temos de ter tempo!
Temos
de alcançar a disciplina necessária para que cada um possa trabalhar com
flexibilidade de horário, com trabalho a partir de casa, com trabalho por
tarefas e organizado sem obrigatoriedade de horário.
O
problema é chegar a esse nível de disciplina e organização, mas porque não
tentar? Em nome de um melhor equilíbrio para todos...
Boa
sorte!
O tempo é o recurso mais escasso;
ResponderEliminare se não for gerido nada mais pode ser gerido.
Peter Drucker, The Effective Executive, 1967