sexta-feira, 18 de maio de 2012

i online: Infecções causam um em cada seis novos casos de cancro

Nos últimos dias a relação entre sexo oral e cancro em Portugal voltou a dar que falar. O médico do IPO Daniel Sousa alertou para o aumento do cancro oral em jovens, resultado de um novo fenómeno: “Os doentes são vítimas de novos hábitos sexuais, nomeadamente do sexo oral com vários parceiros”, disse, citado pelo “Correio da Manhã”. Os riscos do sexo na transmissão do vírus do papiloma humano, que causa o cancro do colo do útero mas também tumores na língua e na boca, têm sido reconhecidos por médicos e investigadores. E um estudo publicado ontem pela Agência Internacional de Investigação sobre o Cancro (IARC) revela a dimensão mais global dos cancros causados por agentes infecciosos, muito para além destes dois casos mais conhecidos. A nível mundial, concluíram os investigadores, um em cada seis cancros são causados por bactérias e vírus.

Os investigadores da IARC concluem na “Lancet Oncology” que em 2008, dos 12,7 milhões de novos casos de cancro diagnosticados a nível mundial, cerca de 2 milhões tiveram como origem uma infecção. Apesar de a percentagem média de cancros relacionados com agentes infecciosas rondar os 16%, os investigadores reconhecem as diferenças entre países mais e menos desenvolvidos.

Na África subsariana, a percentagem de cancros causados por agentes infecciosos como o vírus da hepatite B e C, mas também o vírus do papiloma humano (VHP), atinge os 32,7%. Na Austrália, onde a fracção de cancros de origem infecciosa é menor, não ultrapassa os 3,3%. Dos cerca de 2 milhões de casos apurados, os investigadores estimam que 80% ocorram nos países menos desenvolvidos.

Os investigadores estudaram a incidência de sete cancros em que já foram reconhecidos pela ciência desencadeadores infecciosos. Se no caso do cancro do colo do útero a estimativa é que 100% dos 530 mil casos diagnosticados no mundo estejam ligados ao VHP, no caso do cancro oral a percentagem é de 25,6%. Nos tumores do fígado, estima-se que 76,9% sejam provocados por vírus como os da hepatite B e C.

Catherine de Martel, coordenadora da investigação, explicou ao i que as conclusões do estudo são um alerta para reforçar a prevenção. Além de alargar a cobertura da vacinação nos casos em que esta está disponível, há outras medidas importantes, como os programas de troca de seringas e, no caso da bactéria Helicobacter pylori (que causa 74,7% dos cancros na parte baixa do estômago), reforçar os tratamentos com antibióticos. Martel diz que no caso desta bactéria se concluiu que é responsável por 46% dos cancros de origem infecciosa nos países desenvolvidos (180 mil casos em 2008). “Pode ser um reflexo do baixo investimento na investigação sobre a prevenção do cancro gástrico comparativamente com o cancro do colo do útero ou do fígado.” Os investigadores não descartam também que o número de casos apurados esteja subestimado, por ainda estarem por descobrir ou validar cientificamente outros agentes infecciosos causadores de cancro.

http://www.ionline.pt/portugal/infeccoes-causam-cada-seis-novos-casos-cancro

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